sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

Aos mestres, com carinho ♥


    Meus três anos de ensino médio foram os anos mais difíceis que terei, imagino. Abri mão de tudo o que pude, o que não pude e até mesmo do que não quis, para poder concretizar a conquista do meu sonho: estudar direito na São Francisco. Não é fácil descobrir seu sonho aos 12 anos, especialmente quando você sabe o quão dificil será conquista-lo. Mas tem lados positivos: desde já você se prepara em todos os sentidos para ter as condições ideiais de conquista-lo.
    Após três longos anos de literal reclusão para estudo, eu entrei naquela sala para realizar A prova, a qual daria sentido aos três ultimos anos da minha vida, aos meus esforços diários de concentração, de aprendizado. Àquela conquista de formiguinha feita dia a dia, ano a ano. Eu estava… nervosa! Não podia conter meus impulsos, e meu corpo, claro, não pode suportar a pressão emocional enquanto eu tentava manter o racional estável. Foi uma prova curta, saí quase no prazo minimo: 20 questões em branco no gabarito. Eu já esperava a dificuldade em física e matemática, mas eu era boa demais para chutar 20 questões seguidas, não era daquelas alunas que ficam por um, mas sim, daquelas que passam com 10 a mais. Orgulho…




    Fui para casa, esperei o dia da chamada, ansiosa. Sentia algo que hoje tento qualificar como calafrio, não era bem isso, mas tão ruim quanto. A lista!!  A…. Ana isso, Ana aquilo, nenhuma Ana Julia Aguilera…olhei de novo, de novo e… de novo. Não pode ser! Deus?! Isso existe? Então como após tanto esforço, tanta dedicação, tanto reconhecimento por parte de todos acerca do meu esforço e uma ausência do meu nome naquela lista? Espera aí! Quantos pontos eu fiz afinal? Corrige, conta… conta de novo, de novo… sim, a dor seria como incontáveis alfinetes entrando nos meus olhos, enquanto meu cérebro traduzia a imagem de cada um. Foi por um ponto que eu não passei. Choro, angústia, blasfêmia, cadernos rasgados, vontade de quebrar tudo, por o mundo abaixo. Nada disso diminuía aquela dor, apenas o colo e o afago da mãe que me acompanhou todos os dias, viu meus esforços, e realmente entendia minha dor, fizeram aquela poeira baixar para que eu pudesse me recuperar.
    Plano B:  fazer cursinho em São Paulo. A cidade dos sonhos, porém, o motivo que me trazia a ela era meu pior pesadelo. Dificuldades incontáveis para aquela menininha que só entendia de quimica, gramática, geografia, história… Como viver em um mundo sozinha, longe das asas da minha mãe, se o que eu sei não poderá ser aplicado à convivência? Mas eu tive uma boa instrutora, acho que ela sabia dos meus planos e me ensinou praticamente tudo antes que eu iniciasse a minha conquista.  A cidade, o cursinho, a aula. Eu queria simplesmente gritar  e despedaçar cada pedacinho do meu corpo, porque para mim, eu não merecia andar por esta Terra, comer, poluir, gastar. Eu não era digna.
   




    Então vocês aparecem, conectam o microfone na lousa, sobem no palquinho, se apresentam, e começam a falar sobre tudo aquilo que eu já sabia. Meus olhos se enchem de lágrimas. Mas essas já não são mais a dor que me afligiu dias atrás… são lágrimas de…. Felicidade?! Nossa… vocês foram um bálsamo às dores da minha alma. Um prazer inebriante acordar todas as manhãs para ve-los… tenho certeza que meus olhos cintilavam enqnto assistia vocês tão empenhados em me fazer entender aquilo que antes eu duramente buscara sozinha.
    Chegou julho e eu realmente senti  falta de vocês:  das aulas, das piadas, brincadeiras, do carinho que vocês dedicavam  a nós alunos. Eu nunca tinha pensado em agradecer porque parece tão óbvio o efeito mágico que vocês têm sobre nós. Mas acho que o mínimo que eu posso fazer para agradecer é tentar alcançar nos seus olhos a mesma intensidade de brilho que aplaca os meus ao ve-los, ao acreditar no conhecimento, na sabedoria.
    Vocês são mestres, são inspirações, incentivos. São, como costumo dizer carinhosamente aos cativadores do meu afeto, o calor do sol aquecendo meu rosto em um dia de verão, a brisa fresca que arrasta meus cabelos, fazendo com que eu me sinta viva, estimulada a viver e me tornar , para alguém, algo próximo do que vocês representam para mim.
    Muito obrigada por todas as aulas, obrigada pela injeção de ânimo e saibam que, nunca, jamais, vocês sairão da minha memória.
                                                                                    Carinhosamente,
                                                                                   A. J. A. G.


Créditos das imagens: Deviant Art

Um comentário:

Unknown disse...

Adorei seu texto, flor! Sincero e divertido.

bjs! Amábile